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quarta-feira, 17 de abril de 2024

OS DESAFIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA

  Por Luiz Vieira       

No dia 16 de abril, a 21ª DRE (Diretoria regional de Ensino) reuniu seus diretores dos municípios que compõem a regional – Parauapebas, Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Canaã - para um treinamento sobre a aplicação dos recursos públicos na escola. O evento aconteceu no auditório do CEUP (Centro Universitário de Parauapebas) e foi considerado um sucesso total.


Um dos pontos altos do encontro foi a apresentação dos diretores numa dinâmica onde cada um falava seu nome, sua escola e sua filosofia de gestão. As palavras mais citadas foram:

GESTÃO DEMOCRÁTICA

GESTÃO DESCENTRALIZADA

GESTÃO HUMANIZADA

GESTÃO PARTICIPATIVA

GESTÃO COMPARTILHADA

Todos esses termos culminam na GESTÃO DEMOCRÁTICA.

Mas afinal, o que é GESTÃO DEMOCRÁTICA?
Organizar e promover uma gestão democrática no ambiente escolar é uma das tarefas mais difíceis do diretor escolar. Porém, me atrevo a dizer que é a principal forma da escola dar certo e a gestão colher os frutos que são resultados naturais desse modelo. A principal dificuldade está na compreensão do conceito. Alguns profissionais ainda confundem gestão democrática com o modelo lassiez-faire (o deixar fazer, deixar acontecer). A ideia equivocada aqui é a de que um diretor democrático tem que jogar todas as decisões para a equipe. Ele não gerencia nada, apenas deixa acontecer e vive praticando contorcionismo para agradar a todos.

Fazer gestão democrática envolve vários fatores, entre eles, a capacidade de liderança, a criatividade e a compreensão do processo. Como não é tarefa fácil, muitos se escondem atrás de desculpas do tipo: a comunidade é desinteressada, não participa da escola, não vem nem para reunião de pais ou não tem conhecimento técnico para participar de questões sérias da escola.

Um bom líder vai descobrir que o primeiro passo para fazer gestão democrática é trazer a comunidade para dentro da escola. Uma vez descoberto isso, ele passa a articular com todos os atores sociais que compõem essa comunidade: professores, funcionários, estudantes, associações, sindicatos, etc. O primeiro teste de fogo vai ser o poder de articulação e a liderança do diretor. Uma vez superado esse teste, vem a segunda e mais importante ação: ORGANIZAR O CONSELHO ESCOLAR. Quando falo ORGANIZAR, significa criar um conselho orgânico, atuante, que realmente participe das decisões da escola e não aquele conselho que serve apenas para assinar as atas com as decisões.

Então, fica claro que não existe gestão democrática sem a participação organizada da comunidade escolar através do Conselho. E se trazer a comunidade escolar para dentro da escola já é um desafio, imagine administrar essa comunidade! Esse é outro teste de fogo para o gestor moderno. Saber administrar interesses divergentes, conciliar ideias, valorizar e incentivar o livre pensamento, acolher o contraditório, encorajar o debate franco e honesto, liderar, moderar, são alguns dos atributos indispensáveis para esse gestor.

Vivemos numa sociedade plural com múltiplas faces, crenças e interesses. E isso, se bem trabalhado pelo líder gestor, se transforma em energia criativa para impulsionar o motor da escola e alcançar resultados surpreendentes.

Isso dá trabalho? Muito. Trazer a comunidade para dentro da escola é um caminho sem volta. No início, será estressante, cansativo, contraproducente e às vezes, conflituoso. Mas é um interessante exercício de cidadania que a escola tem a obrigação de fazer. E o primeiro paradigma que temos que quebrar é o de que a comunidade não tem interesse de participar das atividades da escola. No lugar disso, substituiremos esse conceito por: a comunidade não foi educada para participar da escola, não foi incentivada a compartilhar decisões, não foi acostumada a valorizar de fato a educação, não tem o hábito de frequentar a escola, não descobriu que tem poder de escolha e decisão.

Quebrando esse paradigma, a escola estará contribuindo para a transformação da sociedade. Aí sim, a educação está acontecendo de verdade e de forma completa. Será o grande milagre do cidadão descobrindo a cidadania na essência da palavra. Será o milagre do ser descobrindo que é um sujeito de direitos e deveres. E esse processo, que no início será amargo, durante a execução se tornará doce e trará resultados positivos para a escola e a sociedade. Repito: é um caminho sem volta.

Agora é com você gestor e gestora. Lidere sua equipe. Lidere sua comunidade.

           

           

segunda-feira, 8 de abril de 2024

HOMO SARTREANUS

 *Por Gentil Eduardo


Mestre, a qual corrente filosófica representas?

- O existencialismo ateu, que eu represento, é mais coerente que os demais, creio.

- O que trás tal movimento de tão relevante, para representá-lo?

- Afirma que, se Deus não existe, há pelo menos um ser no qual a existência precede a essência.

- A qual ser te referes?

- A um ser que existe antes de poder ser definido por qualquer conceito, este ser é o homem, a realidade humana. 

- O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência? 

- Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo, só posteriormente se define. 

- O homem é aquilo que ele faz de si mesmo?

- O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada

- O que vem à se tornar?

- Só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo.

- Essa seria a propalada natureza humana?

- Bobagem filho, não existe natureza humana, já que não existe um Deus para concebê-la.

- Logo, o homem é uma incógnita de si mesmo, é isso?

- O homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas também como ele se quer; como ele se concebe após a existência, como ele se quer após esse impulso para a existência. 

- Logo, a essência do  homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo?

- É esse o primeiro princípio verdadeiro do existencialismo.

- Ao existir, define seus modelos de crença,  em essência?

- Desta forma, o homem acredita que crê, ele se toma como ser-crença, quando na verdade ele é consciência da crença.

- Um Homo dogmaticus conscientizado?

- Portanto, o nada é essa distância estabelecida pela consciência e que aniquila o ser em seu próprio cerne. 

- Se torna um autoengano ao definir seus sistemas de crenças?

- O homem é habitado por uma falácia: o desejo de ser, que é o desejo de fundamentar-se a partir do outro que não ele mesmo. 

- Por fim, torna-se um vácuo existencial?

- Assim, o Humanismo existencialista, exige que o homem seja o fundamento sem fundamento de todos os valores, que ele se invente a partir do nada que ele é, ao invés de se autodeterminar por algo que lhe é exterior, seja a família, o Estado, o partido político, a religião, os valores, ou qualquer tipo de determinismo social, biológico ou psicológico.

Verdade seja dita. 


* Gentil Eduardo é servidor público, Professor licenciado em Educação Física (UEPA); Licenciando em Filosofia (UNIASELVI); Pós graduação em Metodologia de Ensino de Filosofia e Sociologia (UNIASELVI); Liderança e Gestão  de Equipes (FAERMAT); Psicologia do Esporte, e outros.


quarta-feira, 27 de março de 2024

A SWAT EM BROGODÓ E A ORAÇÃO DA SANTA

Esse é um conto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade, será apenas coisa de sua cabeça.

Era um dia de sexta-feira do mês de fevereiro de 1957 do ano do Nosso Senhor Jesus Cristo. Lembra de Brogodó? A cidadezinha encravada ao sopé das montanhas de diamante, terra que jorrava leite e mel, onde a riqueza gerada daria para enriquecer toda a população e ainda sobraria muito. Mas, como vocês já viram nos episódios anteriores (se ainda não viu, tome vergonha nessa cara e volte na primeira parte), o que era para ser uma bênção, se transformou numa maldição. A riqueza trazida pelo diamante arrancado das profundezas das montanhas de Brogodó atraíram velhos vampiros que se revezavam no poder executivo. A Côrte do Povo que funcionava como um parlamento, também teve boa parte dominada por esses vampiros e, assim, tudo ocorria dentro da normalidade vampiresca.

Na Côrte do Povo, havia uma cortesã que representava o povo de Brogodó com uma genialidade jamais vista. Seu nome era Elizabete III - a Grã Marquesa. Mesmo Elizabete fazendo todo tipo de tramoia e praticando todo tipo de "sem-vergonhices", era vista por seus eleitores e simpatizantes como uma santa. Com uma voz nasal, um inglês sofrível que não conseguia pronunciar dez palavras sem atropelar o verbo e a concordância, mesmo assim, conseguia arrancar aplausos da plateia dos fiéis seguidores. Também não vamos negar. Apesar da Grã Marquesa não ser nada inteligente, tinha uma habilidade especial para seduzir, manipular e encantar sua plateia. Geralmente começava seu discurso com as palavras: "Eu como mulher, como mãe, como esposa, como cristã, como evangélica temente a Deus..." Assim, usando uma capa religiosa que agradava muita gente, Elizabete III ia enganando a quase todos. Chegou a ser chamada de Santa por muitos.

Mas, veja cara leitora e caro leitor. Nem mesmo as santas escapam das "maldades" desse povo "mal" que não respeita nem as "autoridades". Pois bem. Naquela sexta-feira, mais uma vez a cidade de Brogodó foi visitada pela S.W.A.T. Esse órgão responsável por combater a corrupção na Pensilvânia, chegou na rica cidade dos vampiros de surpresa e foi direto para a Secretaria de Educação e para a casa do secretário José Bial. Segundo denúncias, esse órgão operava um pesado esquema de corrupção responsável pelo desvio de milhões de dólares. Também havia suspeita de rachadinha, uso político da estrutura, funcionários fantasmas e até alunos fantasmas para justificar o aumento de carga horária de alguns professores.

O pobre secretário José Bial ficou atônito quando recebeu os homens de preto da S.W.A.T às 6 horas da manhã. Apesar de ser o secretário de educação, o pobre coitado, homem simplório, não tinha a menor ideia da gravidade da situação. Afinal, quem mandava na sua secretaria era sua madrinha, a Elizabete III. Ela mesma. A santa, a Grã Marquesa de Brogodó. Como ela tinha cargo na Côrte do Povo, designou uma ajudante de ordens para dar os comandos na secretaria que ela comandava, mesmo a bichinha não tendo capacidade. Mas, vá lá, a menina tinha capacidade para obedecer, e isso já bastava. Nesse sentido, o pobre secretário, estava mais perdido do que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Acompanhava a tudo trêmulo, pálido, mais branco do que uma vela. 

O baculejo durou umas duas horas. Quando tudo acabou, o José Bial correu para a casa da sua madrinha Elisabete III. Essa, já sabendo do que tinha acontecido, muito nervosa, nem deixou o pobre rapaz entrar na sua casa. Do interfone, falou que estava orando e que ás 20h o procuraria na casa secreta - local bem escondido onde a Grã Marquesa guardava documentos comprometedores e alguns objetos de valor.

A santa passou todo aquele dia orando e agradecendo a Deus pelo livramento. Temia que a S.W.A.T fosse também em sua casa. Aí seria o fim. Enquanto orava, foi tratando de juntar documentos, aparelhos celulares, dinheiro... Separou tudo em uma caixa e mandou seu motorista levar para sua casa secreta onde morava um fiel escudeiro de sua inteira confiança. "Obrigado meu Deus por não ter deixado esses cães dos infernos virem em minha casa. Esse seria o meu fim" - repetia a santa com os joelhos brancos no chão.

A noite, a santa pediu ao seu esposo que ficasse em casa enquanto iria resolver uns problemas. "Meu amor, fique em casa e não saia por nada. Vou resolver aquela situação e não tenho horas para chegar. Fique de olho nas câmeras e preste atenção nas pessoas que passam em frente. Não abra o portão para ninguém" - ordenou a santa. Já no seu carro, ligou para seu namorado e combinou de encontrarem na saída da casa secreta às 21 horas. Namorado? Sim, o que você tem com isso? A santa merece ser feliz!

Às 20h, como combinado com seu pupilo José Bial, chegou à casa secreta e iniciou logo a conversa. "Meu amigo, não se preocupe. Esses cães só querem dinheiro e se for preciso, nós daremos. Não diga nada a ninguém, não fale com jornalistas, não escreva nem uma notinha. Fique calmo que eu vou resolver tudo" - ordenou a Grã Marquesa com segurança e frieza. José Bial chorou, lamentou mas, no final confiou em sua santa. Recebeu um abraço de consolo e foi pra sua casa descansar. Afinal, aquele tinha sido um dia de cão. Agora se sentia mais aliviado e seguro com as palavras da santa. Apesar do numero de documentos levados de sua casa e do seu gabinete, a santa havia garantido que o que tinha de comprometedor estava bem guardado numa caixa em lugar seguro naquela casa onde estavam.

Como combinado, a Grã Marquesa saiu às 21h do seu esconderijo e a dois quarteirões, num ponto sem iluminação, parou seu carro para seu namorado entrar. Foram para outra casa secreta para relaxar, amar  e tomar whisky. Antes que você, leitor maldoso me questione o fato da santa tomar whisky, já que é evangélica, vou logo te adiantando: ela merece e pronto. Você não tem nada a ver com isso. 

Extasiada, a santa voltou para casa as duas horas da madrugada onde encontrou seu marido sentado numa poltrona em frente ao monitor de 50 polegadas vigiando a rua pelas câmeras. Ordenou que ele fosse dormir no quarto de hóspedes pois estava muito exausta e precisava ficar sozinha. Entrou para seu quarto e dormiu como um anjo. Ou melhor: como uma santa.

sexta-feira, 22 de março de 2024

EDUCAÇÃO - VIREI DIRETOR(A). E AGORA?

           

Antônio Carlos é professor de História há 14 anos. Sempre vivenciou de perto os problemas das cinco escolas que trabalhou durante esse tempo. Por diversas vezes, atuou como voluntário para ajudar o diretor em situações como a prestação de contas do Conselho, organizar reunião de pais, dar suporte pedagógico aos professores mais novos, ajudar na matrícula, entre outras tarefas. Sabe o quão difícil são as responsabilidades de um diretor, principalmente num meio onde a educação não é tão prioridade como dizem.

O professor Antônio Carlos, como um bom observador, analisava o trabalho e o comportamento dos seus gestores. Ajudava de forma voluntária e de boa vontade, mas, mantinha um olhar crítico ao ver que muitas coisas não davam certo. “Se fosse eu, resolveria esse problema em dois tempos”. “Não entendo como o diretor Fernando nunca conseguiu resolver isso”. “Parece que tem gente que gosta de problemas”. “Essa diretora é procrastinadora. Desde o inicio do ano que estamos com as centrais do bloco C sem funcionar e ela nunca resolveu”. “Um dia vou ser diretor pra mostrar como as coisas funcionam – comentava ou pensava com seus botões.

Há uma frase que ninguém sabe ao certo de quem é, pois aparece com diversos nomes de autoria, que diz o seguinte: “Tenha muito cuidado com o que você quer, deseja ou fala. Pode trazer para sua vida coisas que jamais quis de fato”. Antônio Carlos era realizado como professor. Amava o seu trabalho e tinha o reconhecimento de toda a comunidade escolar. Mas via a gestão escolar como algo que significava ascensão na sua carreira. Almejava ser diretor e idealizava uma realidade totalmente diferente do real. Nos seus pensamentos, se via sentado numa poltrona de couro preto atrás de uma luxuosa mesa de mogno com várias gavetas. Sua ampla sala, cuidadosamente decorada ao estilo moderno, seria o seu centro de comando onde tomaria grandes decisões e atenderia toda a comunidade escolar. “Serei um diretor de portas abertas e atenderei a todos a qualquer hora. Jamais serei um burocrata” – comentava com alguns colegas de trabalho.

Eis que num dia chuvoso do mês de fevereiro, estava em sala de aula e recebeu uma mensagem que lhe deixou inquieto. “Quando puder, me ligue. Tenho uma proposta para você”. Quando o professor Antônio Carlos viu quem era a autora da mensagem, foi tomado por uma intensa ansiedade. Nem esperou terminar a aula que estava ministrando. Pediu licença aos alunos, disse que tinha um problema urgente para resolver e se dirigiu para a sala dos professores. Ligou imediatamente para a Diretora Regional de Ensino. Seu coração quase sai pela boca quando ouviu a proposta. “Professor, vou direto ao ponto. Quero que você assuma a gestão da escola Professor Silveira Rocha. Pense e me dê a resposta até o final dessa tarde. Passe na diretoria para conversarmos".

A partir desse momento, o professor Antônio não conseguiu mais se concentrar. Pediu licença a sua diretora e disse que não se sentia bem. Precisava ir para casa. Há muito esperava por uma oportunidade dessa. E ela veio de forma inusitada. Teria que tomar uma decisão rápida. “Logo a escola Silveira Rocha? Uma das maiores da rede? Será que vou dar conta?” – pensava angustiado.

O professor Antônio Carlos pensou, pensou e decidiu. Pegou a sua moto e se dirigiu a 51ª Unidade Regional de Ensino. Às 17h53 deu o seu sim à Diretora que, instantaneamente fez os trâmites para a nomeação do novo diretor. Com uma semana depois, a escola Professor Silveira Rocha já tinha um novo diretor. E assim, começou uma nova e desafiadora jornada na vida profissional do empolgado e dedicado professor Antônio.


Bem-vindo ao mundo real



A escola Professor Silveira Rocha, era uma das maiores da rede estadual da cidade. Com mais de 900 alunos matriculados, tinha problemas que já se acumulavam ao longo dos anos. O prédio tinha uma ótima estrutura, mas, sem uma manutenção adequada, foi se deteriorando em todas as áreas. Telhado com goteiras, paredes com infiltração, rede elétrica que dava curto circuito constantemente, mobília inadequada... Mas, todos esses problemas pareciam pequenos diante das outras questões. A escola ficou sob o comando de uma gestora que não tinha habilidade administrativa, muito menos pedagógica. Assim, criou-se um ambiente hostil, com servidores desmotivados, sem gerenciamento, e, com falta de clareza dos objetivos. A escola sequer tinha o PPP – Projeto Político pedagógico.

No primeiro dia de gestão, o professor Antônio decidiu fazer um tour pela escola para ver de perto toda a estrutura. Por ironia do destino, só havia entrado na escola uma vez, na ocasião dos jogos estudantis, onde fora palco das principais partidas devido sua boa estrutura esportiva. Agora, estava ali como gestor, com um olhar diferente e atento a todos os detalhes. Seu José, o vigia mais antigo, dona Joaninha, a responsável pela limpeza, o professor Geraldo de História e a coordenadora Viviani acompanharam o novo diretor nesse tour. Em cada espaço, iam apresentando os problemas numa lista que parecia interminável. Antônio ia anotando tudo na sua agenda e assinalando os mais graves e urgentes. Em cada ambiente ia ficando mais angustiado. Já estava acostumado com os problemas quotidianos que uma escola apresentava, porém, essa escola ultrapassou tudo o que já tinha visto.

A escola não tinha quase nada, nem o básico para o funcionamento de uma unidade escolar. A cozinha, parecia mais um espaço abandonado. Ampla, com espaços de depósitos, porém, não tinha panelas suficientes para a preparação da alimentação escolar, e o único fogão estava funcionando pela metade. O depósito estava quase vazio e o estoque não dava mais nem para dois dias. Na secretaria, havia apenas um velho computador ultrapassado e umas prateleiras enferrujadas de ferro. As salas de aula também não eram nada agradáveis. Carteiras velhas e insuficientes, paredes pichadas, lousas manchadas. Sem contar com as velhas centrais de ar que não funcionavam. Além dos problemas materiais, a escola tinha uma minúscula equipe de manutenção. Apesar de ter 12 salas de aula e mais de 900 alunos, tinha apenas duas funcionárias para a limpeza, uma merendeira e um vigia.

Por falta de segurança na escola Professor Silveira Rocha, os vândalos adentravam no espaço nos finais de semana e, além de depredar, roubavam fios, canos, lâmpadas, deixando a situação ainda pior.

Já era próximo ao meio dia, quando finalmente Antônio Carlos conseguiu entrar na sala do diretor. Agradeceu a equipe que lhe acompanhava e pediu para ficar por um instante só. Entrou naquela sala pequena, escura e desorganizada. Trancou a porta para garantir privacidade e se jogou na velha cadeira giratória que havia atrás de uma velha escrivaninha. Olhou ao redor com olhar atento e percebeu como aquele espaço representava bem a atmosfera da escola. Um ambiente sombrio, desorganizado, com objetos entulhados por todos os cantos, mobília velha e aspecto de desleixo. O cheiro que predominava ali era uma mistura de mofo com alcatrão. O professor – agora diretor – Antônio, sentado na velha cadeira com o encosto solto, chorou. Pensou em desistir, em sair dali correndo e voltar para sua rotina de professor onde era feliz e não sabia.

Enxugou as lágrimas, respirou fundo e ponderou. “Não posso abandonar esse velho barco agora no meio da tempestade. Calma Antônio. Isso é só o começo. Você consegue!” – disse em voz alta como se quisesse convencer a si próprio.

O diretor sabia que tinha uma infinidade de problemas para resolver, de incêndio para apagar e outros para evitar. Imediatamente começou a anotar todas as ações, todas as dificuldades, todas as propostas de mudança, todas as parcerias necessárias e, o mais importante: para cada ação colocou plano A, B, C e D. Não desistiria. Identificou vários problemas da unidade escolar que se acumularam simplesmente pela falta de gestão, como por exemplo: falta do Projeto Político Pedagógico (PPP), falta de organização do Conselho Escolar, falta de entrosamento da Coordenação Pedagógica com a administração, falta de entrosamento com a comunidade escolar para desenvolver o sentimento de pertencimento a escola, falta de ações pontuais para organizar o espaço escolar, entre outros. Viu que por falta da regularização do Conselho escolar a escola deixou de receber verbas dos programas estaduais e federais que poderiam resolver as questões de infraestrutura e da falta de material.

O diretor Antônio também percebeu que muitos problemas dependiam diretamente da secretaria Estadual de Educação. Perguntou à secretária da escola o que já havia sido feito. Ouviu como resposta que vários ofícios já foram encaminhados e que as autoridades tinham ciência dos problemas da escola. Porém, nunca obtiveram respostas.

Debruçou-se sobre uma pilha de papéis e ficou ainda mais assustado. Lembrou do que havia dito anteriormente: “jamais serei um burocrata”. Ledo engano! Percebeu na prática que a burocracia fazia parte do processo de organização em sistemas públicos. Descobriu que não tem como lidar com a vida de estudantes, de funcionários nem com finanças públicas sem seguir um roteiro cheio de protocolos.

Será que o professor Antônio Carlos, excelente educador, será também um excelente gestor? Será que conseguirá resolver os graves problemas da escola Professor Silveira Rocha?

O tempo dirá.


(...) cONTINUA

quarta-feira, 13 de março de 2024

DARCI APRESENTA RAFAEL RIBEIRO AO PT E CAUSA BAIXA IMPORTANTE NA LEGENDA

Depois da última visita do governador em Parauapebas, na ocasião da inauguração da reforma da escola Eduardo Angelim, o cenário político tomou novo rumo. Durante o seu discurso, Helder Barbalho causou mal estar no prefeito com a história dos caititus e dos blogueiros vazios. (Leia a matéria aqui).

Depois disso, o governador chamou as suas lideranças de Parauapebas (Kenyston, Braz, Rafael e Darci) para um café sem açúcar e bateu o martelo em torno do nome de Ivonaldo Bráz, que, segundo ele, tem mais condições e experiência para barrar a sanha da oposição e ganhar as eleições. 

O prefeito Darci, não gostou nem um pouco de ser contrariado e resolveu peitar o governador e mostrar a ele quem é que manda nessa joça. Entrou em campo para procurar um partido para seu pupilo Rafael Ribeiro. E não deu outra. Foi ao PT, partido que, mesmo ele tendo se desfiliado em 2016, continua tendo total influência. 

A reunião com o diretório petista aconteceu no último sábado, 09 de março. Rafael Ribeiro foi apresentado como candidato a ser apoiado pelo PT. Há inclusive a possibilidade do Rafael se filiar ao PT ou se candidatar pelo PSDB e fazer dobradinha com o PT. Tudo está na mesa de negociação e deve se acertar nos próximos dias.


Baixa no PT


Quem não gostou nem um pouco dessa negociação foi o professor Raimundo Neto. O mesmo, tinha colocado seu nome a disposição como opção para candidatura do PT. A apresentação foi fruto de um debate entre um grupo importante de filiados que acham que já chegou a hora do PT sair da sombra do Darci e apresentar candidatura própria. 

O diretório do PT resolveu ignorar o nome do Raimundo Neto e, sem ao menos dialogar, reuniu quase secretamente e abriu as portas para os planos do Darci. Acontece que Neto não está sozinho. Além de ser um nome histórico no partido, tem um grupo grande que deve lhe acompanhar na sua decisão, e não apoiará a decisão do diretório. 

Veja abaixo a carta de desfiliação que o professor Raimundo Neto apresentou ao Partido dos Trabalhadores de Parauapebas:


Há cerca de 40 anos, iniciei minha militância no Partido dos Trabalhadores – PT, ainda muito jovem, nos anos finais da ditadura militar, na década de 80. Na época, morava em Imperatriz.

No início dos anos 90, mudei-me para Parauapebas, onde continuei minha militância no PT, sendo este o único partido ao qual fui filiado, permanecendo até ontem, 12.03.24. Após tanto tempo de engajamento, tudo tem seu fim.

Minha decisão de sair deve-se à profunda incompatibilidade entre meu pensamento e o dos dirigentes locais do PT sobre as próximas eleições. O PT local recusou-se a seguir o calendário interno estabelecido em seus próprios atos normativos.

Por esses motivos, decidi deixar o partido. Continuarei firme com minha ideologia de esquerda, mantendo-me como sempre fui, moderado.

Expresso minha eterna gratidão aos companheiros e companheiras que me acolheram durante esses anos de militância.

Raimundo Oliveira Neto


terça-feira, 12 de março de 2024

A TOMADA DO PODER EM BROGODÓ

Os vampiros de Brogodó - Episódio II

 

Esse é um conto de ficção. Qualquer semelhança com a realidade será coisa de sua cabeça

        

        

Tudo caminhava com a devida normalidade na cidadezinha dos confins do mundo no interior da Pensilvânia. Velhos vampiros de Brogodó se revezavam no cargo de prefeito e conduziam a política de forma que o povo acreditasse que tinha participação ativa no processo político. Ledo engano!

        Brogodó respirava política todos os dias do ano, mas quando chegava no ano eleitoral, a coisa pegava fogo literalmente. Os eleitores agiam de forma passional e defendiam com unhas e dentes seus políticos. Se envolviam com tamanha paixão que, as vezes dava até morte. Velhos amigos viravam inimigos; familiares brigavam entre si; casais se separavam. Tudo fazia parte de um jogo envolvente dos vampiros para que aquele povo se sentisse parte do jogo. No fundo, quase todos eram manipulados e estavam no mesmo saco defendendo os interesses dos vampiros contra os seus próprios.

        A cada eleição, os vampiros promoviam dantescos espetáculos e transformavam a disputa num picadeiro, usando e abusando da política pão e circo. O povo se divertia e, muitos aproveitavam para ganhar um dinheirinho ou até mesmo objetos como: óculos, tijolos, telhas, sacas de cimento, cesta básica, dentaduras, etc. Muitos desempregados ou desocupados aguardavam esse momento para conquistar o trabalho dos sonhos que era balançar bandeira nos cruzamentos e acompanhar os políticos nas passeatas e comícios. A ordem era aplaudir e gritar palavras de ordem, independente do que o político falasse. Bastava o sujeito subir no palanque e dizer “boa noite brogodoenses”, já se ouvia gritos histéricos e palavras desconexas como “lindoooo!” “Maravilhosooo!” “Te amooo!”.

        Uma minoria quase insignificante lutava bravamente para mudar aquela situação. Esse grupo era composto majoritariamente por trabalhadores rurais, operários das minas de diamante e alguns intelectuais como, advogados, administradores, engenheiros, padres, e, muitos, muitos professores. Pregavam uma Brogodó para todos com justiça, paz e equidade. Denunciavam a corrupção, as tramoias políticas e os acordos nefastos entre executivo e legislativo. Faziam muitas reuniões e construíam planos para retirar Brogodó das garras dos vampiros. No início, falavam quase que exclusivamente para eles próprios e quase ninguém os levava a sério. Aos poucos, a plateia foi crescendo, mesmo que por curiosidade. Alguns falavam: “vamos lá ouvir o que aqueles malucos estão falando”.

        Esse grupo de opositores foi crescendo, crescendo, ocupando vários espaços até que ficou grande. Se antes as pessoas ouviam com descrédito e desdém, agora já tinha um numero significativo de pessoas que aderiam às ideias e tomavam consciência de que poderiam se unir e derrotar os vampiros. Aquela ideia de que a família vampiresca dos Salins era imbatível, ia perdendo força e, no fundo do túnel começava a aparecer uma luz verde.

        E aconteceu o que muitos duvidavam. O ano era 1940 do ano de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus. Ano eleitoral onde os vampiros esperavam confiantes por mais uma eleição “normal” como era de costume. Um velho vampiro, chefe do clã dos Salins que há muito dominava Brogodó sucederia sua mulher que já estava há dois mandatos no poder enquanto seu marido se aventurava por outras bandas. Tudo parecia normal.

        Normal, mas nem tanto. Na eleição para escolha do governador da Pensilvânia que ocorrera há dois anos, os vampiros de Brogodó tomaram o maior susto. Uma mulher quase desconhecida, candidata ao governo pela oposição, deu uma surra no candidato dos vampiros e, só não se elegeu porque sua votação expressiva só se deu em Brogodó. Esse foi um aviso que fez com que a vampirada reforçasse sua defesa e atacasse ainda mais aquele grupo de oposição considerado até então inofensivo.

        Pois muito bem. Voltemos a eleição de 1940. A campanha começou fria até que foi esquentando. A oposição aos vampiros foi tomando corpo e, sem dinheiro, sem estrutura, foi se espalhando como rastro de pólvora. De repente, a cidade inteira foi invadida pela cor lilás que representava a cor do grupo de oposição batizado de BROGODÓ PARA TODOS. A cada comício, a cada passeata, cada carreata, era surpreendente ver como aquele grupo crescia. Foi a campanha mais bonita e apaixonante que Brogodó já vira até então. Muitos até falavam empolgados que aquela era a campanha mais bonita de toda a Pensilvânia ou, quiçá do país.

        A campanha contra os vampiros de Brogodó seguia firme e mais empolgante a cada dia. O candidato representante da oposição foi escolhido pela sua simplicidade, sua simpatia, mas, principalmente devido ao seu carisma de se comunicar com o povão. Dizem as más línguas que ele não tinha a menor ideia do que fosse administração nem governo, e, além de tudo era desorganizado e desleixado até com sua vida pessoal. Mas, seu talento de se comunicar com o povo dava gosto de ver. Era daqueles que saia de casa de manhã para comprar pão para o café e voltava a noite sem os pães, mas cheio de histórias sobre as conversas que tivera com as pessoas na rua. “Eis aí o nosso candidato ideal. No quesito administração, nós daremos um jeito. Nós montaremos uma equipe técnica competente e com habilidade para governar. O Vavá será nosso passaporte para ganhar as eleições dos vampiros. Vamos furar essa bolha” – dizia empolgado o professor João Paulo, líder da oposição.

        Ia tudo muito bem na campanha mais empolgante e bonita de toda a história. O candidato Vavá, a cada dia empolgava mais os eleitores. No início, tinha dificuldade para discursar, mas logo pegou o jeito e, falava por horas para uma multidão cada vez mais entusiasmada. Mas uma coisa começou a deixar os líderes da oposição com uma pulga atrás da orelha. É que apesar do grupo não ter dinheiro e ter que fazer vaquinha até para comprar água, de repente, começou a aparecer uma fartura de material. A multidão que lotava os comícios, aparecia em peso de camiseta lilás e portando bandeiras. Quem comprou? Quem pagou? Ninguém sabia. O Vavá dizia que o povo estava comprando com o próprio dinheiro. Do nada, aparecia um cantor famoso para animar o showmício. Quem contratou? O diretor do comitê não sabia. No palco, a coordenação do evento muitas vezes percebia rostos estranhos àquela campanha. “Quem é esse com cara de barão? Não conheço”. “Quem é esse do chapelão com pinta de latifundiário? Nunca vi mais gordo”. “E essa madame com jeito esnobe, seria uma espiã? Não conheço, mas a bicha é bonita! Deixa ela aí. Pelo menos enfeita nossa campanha”. E o Vavá, sempre muito simpático, muito solícito, ia agregando a todos. No final da campanha, havia mais gente estranha acompanhando-o do que seus próprios amigos e companheiros de partido. Mas, o mistério continuava. Ninguém sabia de onde vinha tanto dinheiro, tanto material e tantas atrações caras. Mas naquela altura do campeonato, era bom nem perguntar. Todos estavam empolgados demais para se preocupar com detalhes sem importância.

        Eis que chegou o dia da eleição. Mesmo com os ataques violentos dos vampiros, o grupo de oposição deu uma lavada e venceu com folga. Mesmo já completando vinte anos, lembro-me como se fosse hoje a explosão de alegria e o clima de empolgação e esperança que tomou conta de Brogodó. Era festa pra todo lado. Até alguns fazendeiros que antes se declaravam inimigos daquele “bando de baderneiros comunistas” – como costumavam se referir ao grupo do Vavá – doaram vacas para o churrasco. Empresários empolgados comemoravam e se diziam ser Vavá desde criancinha. Foi uma vitória para lavar a alma daquele povo sofrido que resolveu, como num passe de mágica, abrir os olhos e se livrar de uma vez por todas dos vampiros.

        Será?


        Segue no episódio III

       

terça-feira, 5 de março de 2024

OS VAMPIROS DE BROGODÓ

 

PARTE I


No ano de 1924 da era do Nosso Senhor Jesus Cristo, o povo se preparava para uma nova eleição em Brogodó, uma cidadezinha enigmática, encravada nas montanhas de diamante no Estado da Pensilvânia . O nome, considerado esquisito por muitos, era uma justa homenagem ao igarapé que cortava a cidade e, outrora, servia como fonte de lazer e garantia água limpa para a população. Devido a má gestão de Brogodó, o igarapé agora era apenas um corredor de águas fétidas carregadas de clorofórmio fecal.

        Devido a grande atividade mineradora nas montanhas de diamante de Brogodó, a prefeitura tinha uma receita maior do que muitos Estados americanos. Mas, o que era para ser uma bênção, virou uma maldição para o povo brogodoense que vivia numa constante contradição. Tanta riqueza gerada e o povo vivia numa pobreza que dava dó. Eu explico essa contradição: devido as vultuosas quantidades de dinheiro gerada pela mineração, Brogodó atraiu vampiros de todos os cantos do país. Esses vampiros, disfarçados de homens de bem, descobriram um método para se revezar no poder de Brogodó e assim, sugarem todo o sangue do povo e suas riquezas.

        E o povo, de tanto ter o sangue sugado, estava apático e sem condições de reagir ao sistema implantado pelos vampiros. Alguns, até tentavam reagir, ameaçavam tomar o poder dos vampiros, mas, no final, como num encantamento vampirístico, todos agiam como bobalhões, paspalhões e acabavam contribuindo para que os vampiros permanecessem no poder. E assim, Brogodó continuava se afundando cada vez mais num círculo vicioso.

        A cada eleição, a história se repetia. Os não vampiros se uniam para expulsar os vampiros do poder. Os líderes não vampiros, espumando de ódio, prometiam vingança. “Dessa vez, vamos nos unir e botar esses vampiros ladrões de sangue para correr. Chega de roubalheira” – dizia seu Raimundo do mercadinho. “Vou votar em um cachorro, mas não voto mais nesse FDP chifrudo” – ameaçava seu Paulo da farmácia. “Agora chegou a hora do povo dar o troco. Vou botar pra torar nesses sanguessugas nojentos. Vamos nos unir meu povo. Não podemos esperar. A nossa hora é agora” – esbravejava com valentia o pré-candidato Zé Boca de Burro fingindo lacrimejar no olho esquerdo.

        Será que esse ano seria diferente?

        No fundo, bem lá no fundo, os não vampiros não tinham bons propósitos para Brogodó. Queriam apenas ocupar o lugar dos vampiros para continuar sugando o sangue do povo. E o povo? Ah, o povo! Esse era um capítulo a parte. Quando chegava o período eleitoral, aqueles que viviam ameaçando fincar uma estaca de madeira santa no peito dos vampiros, faziam filas nos comitês para oferecer seu trabalho como cabos eleitorais para ajuda-los, em troca de algum benefício ou até vãs promessas. E assim, tudo se repetia eleição após eleição.

        Já foram registrados casos em Brogodó de políticos não vampiros que conseguiram furar a bolha e chegar ao poder, mas foram mordidos pelos vampiros e se aliaram, tornando-se até piores. Mas, esse será um novo capítulo dessa história.

 

  

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

COMO SE ELEGER PREFEITO E SE PERPETUAR NO PODER - PARTE III


Manual maquiavélico do poder

Como emplacar o terceiro ou quinto mandato?


A distribuição dos cargos


    
Eu, Nicolau Maquiavel, nascido em Florência-Itália no século XV, autor de várias obras, entre elas O Príncipe, que ficou famosa exatamente pela falta de compreensão e entendimento da minha mensagem subliminar que deixei no livro. Agora, em pleno século XXI, me dou ao trabalho de vir aqui, através desse aprendiz de blogueiro deixar uma mensagem. Espero que essa geração do século XXI tenha mais inteligência do que a minha do século XV. Para quem não entender e para quem não compartilhar essa mensagem, prometo que virei pessoalmente atazanar seu sono e assombrar seus dias.

    Dito isso, vamos aos fatos.

    O nobre prefeito seguiu todo o roteiro e se reelegeu com facilidade. Agora, sua missão mais importante é emplacar o terceiro ou quinto mandato. Aí vai depender da sua vontade e da sua fome de poder, pois terá que fazer cada vez mais malabarismo para ludibriar esse povo que já conhece as suas artimanhas. Terá que se reinventar e encontrar maneiras cada vez mais criativas. Uma coisa que sempre cola é dizer aparentando humildade que cometeu muitos erros, que confiou muito em pessoas erradas, que foi traído. Mas, agora, você está calejado, muito mais experiente e com mais sabedoria. O povo cairá nesse conto do vigário com facilidade.

    Antes que você me interrompa, não esqueci que no século XXI ainda prevalece a lei aí no Brasil que só permite a reeleição para cargos executivos uma única vez. O mandato para quem se reelege só dura 8 anos. Mas basta ficar 4 anos fora do governo para você poder voltar a se candidatar e repetir o ciclo, emplacando mais 8 anos, e assim sucessivamente quantas vezes você quiser, de acordo com sua capacidade de inventar novos truques.

    Agora, preste muita atenção nessa lição, pois será a mais importante da sua vida.

    Desde o primeiro dia do seu governo após a reeleição, trate de planejar a sua volta quando terminar o mandato. Nesse caso, escolha deliberadamente um secretariado mais fraco possível. Não se preocupe em buscar competência, honestidade ou qualquer habilidade para o cargo. O único critério é que o secretário seja obediente e não questione nada. Quanto mais néscio, melhor para seus objetivos. Calma! Lá na frente você vai entender o objetivo de escolher tanta gente incompetente para gerenciar o que parece sério.

    Durante a campanha para sua reeleição, você loteou a prefeitura oferecendo secretarias e assessorias para os partidos aliados. Priorize os vereadores eleitos. Dê uma secretaria para cada um, assim, eles não terão como fazer oposição e nem terão tempo para te fiscalizar. E, o mais importante: estarão comprometidos com seus objetivos. E não se preocupe com o que cada um faz na “sua secretaria”. Se der algum problema, você terá um batalhão de advogados para livrar sua cara. Trate a prefeitura como um feudo. Cada um é dono de um pedaço e deixe a coisa se desenrolar (ou se enrolar) por si só.

    Toda unanimidade é burra e levanta suspeitas. Por isso, lembre-se de deixar um ou dois vereadores na oposição comendo o pão que i diabo amassou. Dê corda para que eles falem mal de você. Quanto mais esculhambação, melhor. Se eles te chamarem de ladrão, de corno, de baitola ou do que mais vier à cabeça, apenas sorria. Jamais demonstre raiva. Seja forte, pois o que importa são seus objetivos de se perpetuar no poder.

    Na hora de escolher seus assessores, o único critério é que eles sejam bons puxa-sacos. É importante você ter por perto um bando de bajuladores que te defendam a qualquer custo e em qualquer situação, não importando com o tamanho da merda que você faça. Eles funcionarão como soldados que sairão em campo na sua defesa como verdadeiros pitbulls, principalmente nas redes sociais.



O trato com a imprensa



    Esse é um quesito muito importante. Sabe aquela história de imprensa imparcial? É a pior mentira que já inventaram. Todo mundo tem seus interesses, e, esses interesses, dependem muito do valor envolvido. Então prefeito, seja generoso. Distribua dinheiro com fartura para esse segmento de “trabalhadores”.

    E não escolha veículo de comunicação. Seja rádio, Tv, jornal impresso, blogs, site de notícias, revista de fofocas, página do Facebook, grupos de fofocas no WhatsApp, folheto do grupo de velhinhas missionárias evangélicas... Qualquer um que tenha mais de 100 seguidores, merece sua atenção e o dinheiro dos cofres públicos. Se eles não falarem bem de você, pelo menos vão ocultar as notícias negativas a seu respeito. Não falando mal e nem deixando que outros falem, já está de bom tamanho.

    Monitore todos. Deixe uns três assessores só para acompanhar esses órgãos de comunicação e as redes sociais. Se algum se engraçar com sua gestão, corte a verba. Se ele continuar, levante um dossiê do indivíduo. Todo mundo tem algo podre que esconde a sete chaves. Com isso, você manterá o cabresto no “cabrito rebelde”.



Deixe o caos imperar

    Parece loucura né? Mas vá por mim. Eu sei o que estou falando. Intercale seu último mandato com obras faraônicas (que nunca serão concluídas) com o caos na administração pública. Se o seu município tiver potencial de endividamento, contraia empréstimos bilionários para as tais obras faraônicas. O importante é deixar um rombo para explodir como uma bomba no colo do próximo gestor.

    Se alguém vier reclamar e sugerir que você deve investir em infraestrutura, em saneamento, em postos de saúde e escolas nos bairros, diga que você é visionário e que está pensando no futuro da cidade. Transforme sua cidade num circo pegando fogo. Deixe o caos e o desmando imperar na saúde e, principalmente na educação. E, para aliviar a tensão dos “reclamões”, promova muitas festas, muitos espetáculos, muita pirotecnia. A política do pão e circo deu certo no Império Romano e continuará dando certo nesses confins do mundo atual.

    E o mais importante: crie uma áurea religiosa. O povo adora isso. Coloque no seu vocabulário algumas palavras do tipo “Deus te abençoe”, “Deus proteja nossa cidade”, “nosso município é do senhor Jesus”. Frequente templos evangélicos, reúna com pastores, libere verba para igrejas, mesmo que você não tenha nenhuma religião.

    Mas qual o objetivo de você causar todo esse caos no município que você administra? Eureca!



Aposte em líderes fracos e artificiais



    Você está no seu segundo ou quarto mandato. O seu maior cuidado deve ser com as pessoas com potencial de liderança. A chance de um desses líderes estar se preparando para ocupar o seu lugar é muito grande. Então, trate de destruir qualquer pessoa que demonstre qualquer chance de se tornar um líder. Se algum dos seus secretários ou assessores começar a demonstrar resultados positivos, receber elogios, ser reconhecido pela população pelo seu trabalho, dê um jeito de fritá-lo o mais rápido possível. Arme uma arapuca para ele, use a vaidade do líder como arma de autodestruição, engendre um plano para que ele caia em situação vexaminosa e destrua a sua reputação a qualquer custo. Não tenha escrúpulo ou piedade. No momento, o que você não precisa é de pessoas para dividir a sua glória conquistada com sacrifício.

    A regra aqui é fugir de pessoas que apresentem qualquer potencial de apresentar bons resultados para sua gestão. Lembre-se: você tem que causar o caos. Isso parece absurdo para você? Se não estiver preparado para continuar no poder, pode parar por aqui, pois esse espaço não é para quem tem escrúpulos ou pudor. Afaste-se dos seus amigos e cerque-se de bajuladores profissionais. Eles são a energia que você precisa para continuar no poder.

    Seu mandato vai terminar e você não poderá mais se reeleger. Lembra que eu te falei no sexto parágrafo que iria entender o motivo de se acercar de gente incompetente no seu governo? Então, para concluir, vai a dica de ouro que fará você se perpetuar no poder.

    Você não pode cometer esses dois pecados capitais: a vaidade e a confiança.

    Por vaidade, você pode cair na tentação de eleger seu sucessor. Afinal, é normal querer mostrar que é fodão, que tem popularidade bastante para eleger quem você quiser. E aí vem o segundo pecado: você pode cair na tentação de confiar em alguém achando que ele vai ser manipulado por você, que só vai fazer o que você quiser. Acredita que vai apenas esquentar a cadeira para você voltar. Se cometer esses dois pecados será o seu fim. Raciocine comigo: por mais que o seu ungido seja da sua confiança, que esteja com você para o que der i vier, depois que ele sentar na cadeira de prefeito, vai tomar gosto pelo poder. Aí, meu amigo, já era. Com absoluta certeza, vai te isolar, se afastar de você e criará sua própria estratégia de poder. Quando você menos perceber, já virou peça de descarte.

    No final do seu segundo ou quarto mandato, quando você não puder mais se reeleger, saia de cena e se prepare para voltar em quatro anos. Para isso, faça o jogo teatral. Lembra do caos que você criou na sua gestão? Agora já está começando a entender a utilidade disso. Seu município estará tão destruído que o povo ficará fragilizado e com ódio de você. E no meio a esse caos que você criou, o eleitor estará tão fragilizado e confuso que será quase impossível de raciocinar com a razão. E a história nos mostra que um povo fragilizado, age como náufrago em busca de uma tábua de salvação. Assim, ele tende a fazer escolhas absurdas. Com certeza, ele (o povo) vai eleger a pior opção possível. Entendeu a lógica?

    Como todos esperam que você escolha alguém para te suceder, escolha um candidato que não tenha nenhuma chance de se eleger. Se você eleger seu sucessor, ele terá a chance de ficar oito anos no cargo. E oito anos meu amigo, é tempo suficiente para o povo te esquecer. Então você terá três tarefas: 1º) Provoque divisão na sua base. Prometa apoio a uns três ou quatro nomes. Faça com que eles acreditem que terão sua bênção para a sucessão e deixem eles se matarem por isso; 2º) Na última hora, escolha o candidato mais fraco, que não tenha nenhuma condição de ser eleito. Mesmo você estando queimado com o eleitor, com o uso da máquina o seu candidato ainda pode se eleger. Então cuide-se para que isso não aconteça; 3º) Secretamente, dê apoio ao pior candidato da oposição. Dê um jeito de fazer chegar dinheiro a esse candidato. Um contrato milionário para um financiador da campanha dele é uma boa ideia. Mas cuidado para o eleitor não descobrir isso, senão seu plano vai por água abaixo.

    Tudo o que você precisa é que seja eleito um destrambelhado da oposição que vai herdar uma prefeitura falida e não tenha capacidade de colocar o trem nos trilhos. Fará tanta besteira que o incauto eleitor que raciocinou com o fígado ao invés do cérebro, vai sentir saudade de você.


    Agora, mãos à obra. Se aplicar esse plano direitinho, te garanto que se elegerá quantas vezes quiser. Confie nos seus instintos e na baixa capacidade de entendimento da maioria dos eleitores. E confie mais ainda na incapacidade de raciocínio e falta de inteligência dos que se  matam para assumir o seu lugar.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

COMO SE ELEGER PREFEITO E SE PERPETUAR NO PODER - PARTE II

Afaste-se do povo



Manual maquiavélico do poder

Se você não leu a parte I, clique aqui e leia antes. Compreenderá melhor e será mais divertido.


Agora falaremos sobre o seu relacionamento com o povo.

Mantenha uma certa distância. Deve parecer popular, mas não exagere, senão se tornará uma figura comum e perderá sua importância. Evite se misturar com populares na feira, nos botecos ou na igreja. Deixe o povo sentir sua ausência e apenas em ocasiões raras se envolva. De vez em quando, apareça na casa de um eleitor humilde e demonstre intimidade. Entre na cozinha, tome um café frio e elogie. Abra as panelas, coloque um punhado de arroz queimado na palma da mão e jogue na boca. Pergunte à dona Maria como ela consegue fazer um arroz tão saboroso.

E não esqueça de sempre dizer que sente falta do contato diário com esse povo. Afirme com ênfase que as responsabilidades do cargo não permitem estar sempre com eles. Nestas raras ocasiões, seja gentil, fale com humildade. Peça aos seus assessores que levantem informações familiares de alguns que tenham alguma liderança. Você não imagina o poder e a magia de chegar para o Zé Ninguém e perguntar: como está seu filho Zezinho? A sua esposa Raimundinha está melhor da coluna? E diga isso tocando o rosto da pessoa. Pronto! O Zé Ninguém que falava aos quatro ventos que quando te encontrasse iria te dar uma peixeirada no bucho, agora declarará amor eterno. “Este é o prefeito! Homem humilde, de bom coração. Lembrou até da minha esposa doente e do meu caçula” – dirá o ingênuo cheio de orgulho.

Realize algumas obras importantes. Especialmente asfalto. Os menos favorecidos gostam disso, mesmo que tenham que pisar em fezes dos esgotos que correm sobre esse asfalto. Construa muitas estradas rurais, faça aterros e enterre muitas manilhas. Se algum intrometido questionar o superfaturamento das obras, mande-o cavar pra conferir o tamanho e a espessura das 2.781 manilhas enterradas e contar as 3.269 caçambas de piçarra usada no aterro. Mas tenha cuidado para não realizar obras duráveis. Faça o asfalto “sonrisal” (que derrete na primeira chuva), aterre as cabeceiras das pontes sem uma base sólida, utilize material de baixa qualidade, embora a licitação indique o contrário. Você pode facilmente colocar a culpa na chuvarada que caiu fora de época e até culpar São Pedro. Vai precisar refazer tudo de novo. Isso, significa mais dinheiro para a campanha e para o enriquecimento pessoal. Avance sem medo. Vá na fé.

Os três primeiros anos passaram como um piscar de olhos. Resta apenas um ano para a reeleição. É vital conquistar o segundo mandato, pois, um prefeito que não se reelege, é considerado um fracassado, um estorvo. Ajuste seu discurso. Diga que “o trabalho tem que continuar”, “o progresso não pode parar”, essas palavras vazias que influenciam os mais frágeis.

Ah, é crucial ter nas mãos pelo menos 90% dos vereadores e todas as autointituladas lideranças políticas. Afinal, dinheiro é o que não falta para esse propósito. Aniquile a oposição. Compre uns, desmoralize outros, amplie as alianças. Dessa forma, sua eleição será tranquila. E para que nada dê errado, por margem de segurança, loteie toda a prefeitura. Distribua todos os cargos entre os partidos políticos, prometa assessoria aos candidatos a vereador que não for eleito. Prometa, prometa, prometa... Ah, e não se esqueça de contratar um batalhão de cabos eleitorais (os chamados formiguinhas) 60 dias antes das eleições. Contrate 5 mil formiguinhas por um salário mínimo, mas declare somente 500 para não ser acusado de abuso de poder econômico. Não faltarão desempregados dispostos a ficar sob o sol balançando bandeiras e lotando seus comícios. Até haverá quem deixe o emprego para aproveitar essa oportunidade que julga ser moleza.

Preste atenção aos detalhes na contratação das formiguinhas (cabos eleitorais). Priorize aqueles com uma grande família de eleitores. Imagine alguém com esposa e quatro filhos aptos a votar! Serão 6 votos garantidos. E pelo menos uma vez, reúna todos, ofereça um café e destaque a importância deles na campanha e no governo após a vitória. Não se preocupe. Após vencer, não será preciso vê-los novamente.

Pronto. Você passou por cima dos adversários como um rolo compressor. Sua vitória foi esmagadora. Desapareça por um tempo da cidade. Deixe os aliados ansiosos, sem saber se serão contemplados com os cargos e secretarias prometidas. Afaste-se desses abutres, dessas hienas famintas. Afinal, todos sabiam que você não conseguiria cumprir nem com dez por cento das promessas. No apagar das luzes, após o Natal, anuncie o novo secretariado de maneira que cumpra parcialmente o acordo com alguns partidos, distribua umas assessorias a alguns de seu interesse e desapareça novamente. Passe o réveillon em uma praia distante com sua família, levando consigo três “assessoras” para oferecer suporte. Se é que você me entende.

Relaxe! Agora você tem mais cacife, mais autoridade. Afinal, se reelegeu prefeito com quase 70% dos votos quando os “especialistas” apostavam que você não se elegeria mais nem pra cão de guarda.

Agora é hora de pensar no seu terceiro mandato.

- Como assim Maquiavel? Terceiro mandato? A regra não diz que são apenas dois?

- Calma, meu filho. Pra tudo há um jeitinho. Vá descansar um pouco, antes que tome gosto e resolva permanecer pra sempre no meu espírito. Na sexta-feira continuamos essa aula.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

LÍDER OU GESTOR - EIS A QUESTÃO!

 

            By Luiz Vieira



Você sabe qual a diferença entre líder e gestor? Muitos pensam que são apenas sinônimos, mas na verdade, existe uma grande diferença.

Gestor lida com processos, com gerenciamento, com a organização da instituição ou empresa. Podem ser excelentes profissionais, podem ter muita competência, mas não ser um líder. O líder é um especialista em gestão de pessoas. Ele, geralmente é dotado de inteligência emocional e tem a capacidade de conduzir uma equipe com diferentes estilos e personalidades de forma harmônica. Sabe separar o pessoal do profissional, é dotado de empatia, dialoga bem em qualquer situação e sabe colocar as palavras certas de acordo com o momento.

O líder conquista a confiança do grupo por suas atitudes. Todos sabem que podem contar com ele, pois se importa com todos e trata toda a equipe com honestidade e transparência. Assim, torna-se uma referência que a maioria quer seguir. Em síntese, o líder tem a capacidade de conduzir a equipe para fazer o que precisa ser feito de forma organizada.

Podemos afirmar, com base nas experiências empíricas e em várias pesquisas que pode haver um gestor bem preparado, mas, por não ter as características de um líder, seu trabalho não apresenta bons resultados. Por outro lado, um bom líder, mesmo que não tenha as habilidades de gestão, poderá alcançar melhores resultados junto a equipe devido a sua capacidade de organizar as equipes e explorar as habilidades de cada um.

O cenário ideal para qualquer instituição (e aqui eu destaco as instituições educacionais), seria o de um gestor com habilidades de liderança. Além de conhecer todo o processo de gestão, o gestor-líder tem a capacidade de conduzir a equipe para a realização das tarefas de forma otimizada e alcançará os melhores resultados.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

COMO SE ELEGER PREFEITO E SE PERPETUAR NO PODER - MANUAL MAQUIAVÉLICO DO PODER


O sonho de 10 entre 10 políticos é se eleger a um cargo executivo e se perpetuar no poder. Em cargos legislativos como vereador, deputado e senador, isso é possível. Já no executivo (prefeito, governador ou presidente), só pode se reeleger uma vez. Daí, o ex tem que esperar quatro anos para tentar novamente uma nova eleição para o mesmo cargo.

Aqui, vou tratar apenas de prefeito. Para governador e presidente já é outra história, pois o buraco é mais em cima. Esse método de milhões que vou ensinar gratuitamente, só vale para prefeito, principalmente de cidades pequenas, interioranas, onde o povo está mais suscetível as manobras políticas.

Pegue um copo d’água, sente-se confortavelmente que agora vou incorporar o espírito de Nicolau Maquiavel que vai me soprar no ouvido esquerdo essa importante e diabólica lição.

Vou saltar a parte da sua primeira eleição para prefeito, pois essa eu cobro muito caro. Agora que você já se elegeu a prefeito de um município qualquer desse interior do Brasil (e não me interessa os métodos que você usou para isso), vem o seu grande desafio. Governar bem o município? Que nada! Relaxa! O povo geralmente não está muito preocupado com esse detalhe da boa governabilidade. No fundo, bem lá no fundo, o eleitor elege alguém que na média se pareça com ele, com todos os seus vícios e defeitos. E o que esse eleitor quer? Mesmo que ele (o eleitor) grite aos quatro ventos que quer educação, saúde, saneamento e outras cositas mais, na verdade, tudo o que ele deseja é um afago, um agrado e algumas promessas de favorecimento pessoal.

Então, prefeito, anote aí sua principal prioridade depois de eleito: garantir desde o primeiro dia de mandato a sua reeleição. E para alcançar esse objetivo, você tem que mandar seus escrúpulos às favas. A primeira tarefa é se livrar dos seus amigos e parceiros que te ajudaram na eleição. Esses, são metidos a honestos e, no primeiro vacilo que você der, no primeiro desviozinho de uma merreca, vão te denunciar ou te chantagear. Trate de arranjar novos parças, ou melhor, novos cúmplices. Se “ajunte” a lobistas, principalmente que moram longe de sua cidade e que tenham esquemas com Brasília e tenha alguma influência no judiciário. Com toda certeza, você vai precisar.

Pausa. Respire! Não fique nervoso(a). (Lembre que quem está falando é Maquiavel e não Luiz Vieira).

Com esses novos aliados (ou cúmplices), faça acordos diversos, mas deixe sempre uma ponta amarrada. Mantenha essa gente comprometida e envolvida com você. Grave conversas, promova festas do cabide com muito whisky e garotas animadas, filme tudo e guarde a sete chaves. Se algum dia um desses cúmplices mostrar os dentes, esfregue na cara dele o segredo mais sórdido e logo ele vai botar o rabinho entre as pernas e recolher os caninos. Assim, você manterá o poder e seu mandato transcorrerá na mais perfeita ordem.

Ah, com esses novos aliados (cúmplices), promova todo o tipo de falcatrua. Afinal, você precisará de muuuito dinheiro para sua reeleição. Ou você pensa que aquele bando de eleitores e lideranças políticas que você convenceu a votar e trabalhar na sua campanha de graça vai cair de novo no seu conto de sereia? Agora, cada voto valerá muito dinheiro. Cada apoio será mais caro que a fórmula da eterna juventude. Mas, faça as falcatruas com presteza. Traga de longe um especialista em transformar licitações fraudulentas milagrosamente em processor transparentes e sem vícios. Distribua contratos (na saúde e nas obras públicas estão os melhores), chame uma grande companhia para cuidar da limpeza urbana, contraia empréstimos em bancos, faça os cambaus. Só não te recomendo a usar verba federal, pois de vez em quando, costuma dar BO. Mas, faça tudo isso de maneira que você não se envolva.

Não deixe rastro, nada de mensagens, nada de ligações. Trate de tudo pessoalmente com seus aliados e bem longe do seu município. Seu nome tem que estar mais limpo do que toalha de sacristia. Não se afobe e não se empolgue. Se algo acontecer, você não precisa ter vergonha de colocar a culpa em algum dos seus secretários ou mesmo no empresário que você confiou. E eles cairão nessa teia que você armou e nada poderão fazer, a não ser se debater. 

... (Continua na quarta-feira)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

HELDER BARBALHO E OS CATITUS

"Catitu fora da manada é comida de onça"


No dia 5 de fevereiro do corrente, o governador do Pará, Helder Barbalho veio mais uma vez a Parauapebas. Entre outras atividades, entregou para a comunidade a Escola Estadual de Ensino Médio Eduardo Angelim que passou por uma reforma geral. 

Dessa vez, o que roubou a cena não foi as rodadas do governador no carimbó. Durante o seu discurso, ele deu um puxão de orelhas nos pretensos candidatos a prefeito de sua base em Parauapebas. Porém,  o puxão de orelhas (ou foi uma CR?) mais veemente, foi para o prefeito de Parauapebas Darci José Lermen.

O governador usou um animal bem presente na Amazônia para exemplificar o que estaria acontecendo no cenário político de Parauapebas. Disse textualmente: "catitu fora da manada é comida de onça". Aqui, Helder se dirige diretamente ao prefeito que, na visão do governador não teve a competência de unir sua base. Mas, essa crítica foi também diretamente para os pretensos candidatos Kenyston Braga,  Rafael Ribeiro, Bráz e Branco da White, que lançaram suas pré-candidaturas e partiram para uma disputa radical e, usando a estratégia do "fogo amigo", causaram sérios danos na própria base do governo. Temos como exemplo os vídeos vazados do deputado Braz numa situação particular comprometedora. Esse, foi um exemplo do tal "fogo amigo", pois comenta-se nos bastidores do poder que os mesmos saíram da própria base do governo e tinham a clara intenção de expurgar o candidato com mais chance de representar o governo numa disputa pela prefeitura.

Na continuidade do seu discurso, o governador Helder Barbalho, mais uma vez olhando para o prefeito Darci disse: "Eu fico com quem faz. porque lamentavelmente tá na moda, alguns políticos que só ficam em rede social falando bobagem e não dizem o que fazem, não dizem o que realizam. Exercem cargo, mas não tem um prego numa barra de sabão pra mostrar. Portanto, eu acho que a população está cansada de conversa fiada e quer governante que entregue. Governante que sabe o que diz, que sabe fazer e não só papo furado e conversa fiada. Muito menos governante que ao invés de trabalhar fica só em rede social. Quer ficaer em rede social, vira blogueiro, vai ser digital influencer..." 

Esse desabafo em público do Helder para Darci demonstra bem o clima de insatisfação do governador com os rumos da política em Parauapebas. Tive informação de que em conversa com um correligionário de Parauapebas, Helder teria dito que achava o cúmulo do absurdo o Darci ter ido participar da Farofa Gkay e ficar fazendo propaganda de botox enquanto o município vive sua maior crise. 

Como um político experimentado, Helder sabe do prejuízo que será perder um município importante como Parauapebas para a oposição ao seu governo. Por isso, até entendo o seu rompante e o ato radical de lavar roupa suja em público. Mas acho que o governador exagerou. Esse puxão de orelha tinha que ser em particular, a quatro paredes de forma individual. Publicamente Helder deveria demonstrar que sua base estaria unida e forte para o que der e vier. 

Ao usar a alegoria do catitu, o governador também deixa uma metáfora no ar. Sabemos que o catitu é uma espécie de porco que é visto como praga. Por onde passa a manada, deixa um rastro de destruição e grande prejuízo. 

Outra observação. Talvez o governador não conheça a capacidade de articulação do prefeito Darci que tem se tornado a cada mandato, um verdadeiro Mandrake. De onde menos se espera, eis que ele tira uma carta matadora da manga. Então, com certeza, o que o Helder nem desconfia é que essa crise é estruturada, é pensada, é planejada e tem método. Enfim, está tudo sob controle.

Aposto que esse último parágrafo te deixou com uma pulga atrás da orelha não foi? Calma! Se eu tiver de bom humor depois da ressaca de carnaval eu te explico.