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sexta-feira, 5 de agosto de 2016

MOMENTOS FINAIS - O DOCE VENENO DA ARANHA

(Parte Final)


A rotina na casa de Paulo seguiu com a mesma melancolia de sempre. A Tereza cada vez mais distante e mal humorada. O Paulo retribuindo ao seu desprezo, ficava cada vez mais distante e calado. Já não questionava nada, não reclamava de nada e tentava dar um ar de normalidade a vida. Só que agora, não parava de pensar em Martinha. Já fazia um tempão que ela não dava o ar da graça e parece que se desentendeu com Tereza. Antes, as duas se encontravam com frequência, falavam ao telefone o tempo todo, trocavam mensagens. Agora, Paulo percebia que algo tinha acontecido entre as duas. Numa tarde chegou a comentar com Tereza sobre o sumiço da amiga e ela respondeu de forma lacônica: “deve estar trabalhando muito”.

Era uma noite de quarta feira. Paulo ficou até mais tarde no seu escritório e nem percebeu que lá fora um aguaceiro desabava do céu. Olhou o relógio e percebeu que já ia dar 21 horas. Decidiu ir para casa, e quando saiu é que percebeu que chovia muito e as ruas estavam completamente alagadas. Despediu-se do porteiro do prédio e correu para seu veículo e nem ouviu quando o porteiro gritou: “cuidado seu Paulo, deu no rádio que tem muitas ruas alagadas”.

Ao tentar cruzar a avenida perimetral, notou que a água estava chegando ao capô do seu corsa. “Maldição, por que ainda não troquei esse carro baixo?” – lamentou ao ouvir o barulho de motor engasgado. Acelerou com força, mas não obteve resultado. De repente a água já estava entrando no veículo e percebeu que estava sendo levado pela enxurrada. Teve que abandonar o veículo no meio do temporal. Todo encharcado ficou na calçada observando a água levando o pequeno corsa como se fosse um barquinho que descia ao som dos gritos histéricos da multidão de desocupados que ficava nos beirais só para assistir aquele espetáculo. “Esse aí já era”, “dançou”, “virou lata-velha”. Paulo assistia aquele espetáculo dantesco estrelado pela natureza, impávido e com a calma de um monge. “Há de passar um conhecido para me dar uma carona”, - pensou confiante.

De repente, eis que surge um jeep branco e o motorista com ousadia, acelera na correnteza e o ronco do motor compete com os gritos dos desocupados. “Mais um para o Xico lata-velha”, “não vai conseguir”, “se ferrou”. Ali todos torciam a favor da catástrofe e jogavam toda a revolta por não conseguir ter um automóvel, nas costas dos motoristas desavisados. Paulo observava o jeep enfrentando a correnteza com destreza e perícia e silenciosamente vibrava com o sucesso do motorista: “isso, vai, vai, mais um pouco, yes...” O veículo tracionado venceu a correnteza que se formou na avenida, para a decepção dos expectadores. Estaciona próximo a calçada, toca a buzina duas vezes e o vidro do lado do motorista abaixa um pouco. Alguém no volante faz sinal para o Paulo se aproximar. “Não! Não acredito no que vejo. Hoje os anjos estão conspirando a meu favor”. 

No interior do jeep estava Martinha. Paulo deu um salto, enfrentou a torrente e alcançou o veículo. Estava todo molhado e hesitou um pouco antes de entrar. “Entre logo, senão eu desço e vou tomar banho de chuva com você” – gritou Martinha com um sorrisão generoso. Paulo entrou levando parte da água para o interior do veículo. 

- Hoje é meu dia de sorte. Perdi meu carro nessa correnteza, estou até a alma encharcado, mas só esse sorriso já valeu a pena, - falou Paulo enquanto se inclinava e dava um beijo na face de Martinha. Ela acelerou com força e saiu do meio daquela muvuca. 

- Então senhor super-homem, além da criptonita, chuva também tira seus superpoderes? – brincou Martinha bem humorada. 

- Não! Só mulheres excessivamente bonitas tem esse dom de me deixar vulnerável – respondeu Paulo enxugando o rosto com lenços de papel que Martinha lhe oferecera. 

- Que coincidência boa te encontrar aqui logo no meio desse temporal. Estava morrendo de saudade mas não me atrevi a ligar – disse Martinha jogando o cabelo cacheado para o lado. 

- Pois é. Você sumiu. O que houve? Brigou com a Tereza? – Indagou Paulo.

- Ah, deixa pra lá. Me diga onde quer ir que hoje serei sua motorista.

- Sério? Então me leve pra onde você quiser. – Arriscou Paulo com segundas intenções.

Martinha acelerou bruscamente seu jeep e virou à esquerda. Paulo percebeu que estava indo em direção a casa dela, mas não falou nada. Apenas se deixou levar. 

- Pronto, você falou que eu podia te levar para onde eu quisesse. Hoje estou precisando de companhia para um vinho e quebrar a solidão. Seja bem vindo a minha humilde residência – falou Martinha enquanto aguardava o portão elétrico que se abria lentamente.

Martinha mandou o Paulo tomar um banho e ofereceu-lhe uma camiseta sua. Quando ele saiu do banheiro, ficou parado e extasiado olhando aquela cena. Martinha estava derramando uma garrafa de vinho dentro de um decanter. Fazia bem devagar como se fosse um ritual sagrado. Sobre a mesa já haviam duas taças e uma travessa de frios com os queijos de sua preferência, além de outras guloseimas caprichosamente dispostos numa bandeja de vidro.

- Estou no paraíso? – indagou. 

- Muito cuidado super-homem. Você pode estar caindo na teia da aranha – brincou Martinha enquanto lhe entregava as taças vazias e apontava o decanter com o vinho em descanso.

Paulo abasteceu as duas taças e fez um brinde: 

- A nós! Que as coincidências da vida nos leve ao paraíso e que tenhamos sabedoria para decifrar os sinais da natureza.

-Hum! Gostei do meu filósofo – respondeu Martinha enquanto bebia devagar o vinho tinto como se fosse o néctar dos deuses.

Paulo ficou ali parado observando os seus lábios em contato com a taça de cristal solvendo o seu conteúdo de forma sensual. Nunca vira nada igual. A luz amarelada que crepitava da vela no centro da mesa emoldurava seu rosto, formando um quadro de beleza jamais pintado por nenhum artista. Como se estivesse em transe, não disse uma palavra. Num gesto de atrevimento que jamais imaginaria ter coragem, agarrou Martinha pela cintura e beijou-a ardentemente. Foi um beijo longo, quente, apaixonado e cheio de desejo. Martinha se entregava àquele momento como se já houvesse intimidade entre os dois. Um pequeno intervalo, olhos nos olhos como se não acreditassem no que acontecia. “Me belisca” – balbuciou Martinha. E voltaram a se beijar.

Paulo puxou Martinha contra o seu corpo com força selvagem e esmagou os seus lábios vermelhos como se estivesse sugando o néctar de uma doce fruta. Ela se contorcia de prazer e deixava escapulir leves gemidos como uma loba que se entrega após lutar contra uma armadilha. A pele branca do seu rosto estava cor de sangue, tamanha era a excitação, o que deixava Paulo ainda mais louco. Ele levanta-a com facilidade apesar de ser um pouco mais baixo que ela e coloca-a sobre a mesa. Arranca sua blusa de forma brusca, e como ela não estava usando sutiã, seus peitos saltam em sua cara como uma miragem impossível. “Como são lindos!” – exclama Paulo enquanto explora toda a região com sensualidade e atrevimento. Agora os gemidos são mais fortes e compete com o barulho da chuva que desaba lá fora. 

Martinha já está completamente nua. Se levanta da mesa, e com violência arranca a roupa de Paulo, deixando-o completamente nu. Comprime seu corpo branco contra o corpo moreno dele e vai beijando-o de cima para baixo até ficar de joelhos à sua frente. Seu cheiro lhe atrai ainda mais e os gemidos vão ficando incontroláveis. Ela agora implora desesperadamente: “quero você agora!”. 

A situação está completamente fora de controle. Os dois se entregam num frenético ritual de amor como ambos jamais haviam experimentado e assim ficam durante horas consumindo um ao outro como se não houvesse amanhã. 

- Meu Deus, como é que eu pude levar tanto tempo para descobrir como isso é bom! – exclamou Martinha enquanto se jogava junto com Paulo entre as almofadas do tapete da sala.

 E assim, ao final, completamente extasiados e esgotados, os dois ficaram agarrados até acalmar a respiração ofegante. "Você é uma mulher incrível" – sussurrou Paulo.

O relógio marcava 3 horas da madrugada. Paulo tinha que se apressar. Queria chamar um taxi, mas Martinha insistiu para deixá-lo em casa. 

- Imagine se eu vou deixar meu super-homem sair de taxi uma hora dessa! Tem certeza que não pode dormir aqui? 

- Absoluta! Sou um homem casado e fiel, lembra? – respondeu Paulo dando-lhe um beijo e arrastando-a para a garagem enquanto ajeitava os cabelos desgrenhados.

Paulo chegou em casa e entrou silenciosamente. Chegar tarde já não era mais problema nos últimos tempos. Entrou no quarto sem fazer barulho e no escuro encontrou a porta do banheiro onde se recompôs e se preparou para dormir. Por uma fresta de luz viu Tereza dormindo tranquilamente vestida com sua camisola amarela. Ficou por um instante olhando-a e pensou: “como é linda a minha Tereza!”.

FIM

2 comentários:

  1. Ainda bem que ela não é a Tereza da praia... Tudo é bom enquanto dura!
    Cuidado para não tomar uma coça da Tereza. Igual levou uma coça do corsa!
    Alípio...

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