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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O vômito mortal

Um poema amarelo

Pobre menino! Pobre menina. Não importa a idade, a escolaridade, a experiência. Mas o comportamento foi típico de uma criança confusa e perdida.

Viu sua vida melhorar milagrosamente. Arrumou um emprego bacana, conseguiu virar universitário, comprou bens, viajou, trocou o ônibus pelo avião e até carro comprou.

Acreditou que foi tudo por mérito e esforço pessoal. Pode até ter sido, mas e seus pais? Outrora também não tiveram méritos? Não trabalharam arduamente enquanto não conseguiam sequer comprar um presente para você no natal?

Acreditou numa verdade fabricada, embarcou numa canoa furada. Sonhou o sonho que não era seu, viveu uma realidade que não era sua. Defendeu bravamente uma bandeira por pensar que era sua, fez aliança com o inimigo e até dividiu os seus farelos.

Vestiu-se com as cores da bandeira, foi para as ruas. Bradou, vociferou contra a corrupção. Acreditou que estava fazendo por sua vontade, por sua consciência. Estava tão envolvido que nem percebia que apenas era usado, para depois ser vomitado.

Repetiu frases, bordões como mantras. Ofendeu amigos e até desconhecidos em nome de uma tal libertação. Cuspiu nos aliados, nos seus defensores e se aliou aos carrascos. Mal sabia o pobre que tudo não passava de um plano macabro de quem não tem escrúpulos nem pudor.

Com a cabeça dominada, manipulada, nem percebeu uma velha máxima: “uma mentira repetida exaustivamente vira verdade”. Atendeu prontamente ao chamado da grande mídia e engrossou a fila da insanidade.

Completamente extasiado, completamente dominado pelo sistema, como se tratasse de uma hipnose coletiva, foi ferrenho na luta pensando que era sua. Como um soldado adestrado espalhou mentiras e boatos nas redes sociais. Compartilhou ódio, intolerância e como um cão traiçoeiro mordeu a mão dos seus companheiros.

Agora está perplexo, descrente de tudo e de todos. Percebeu que acordou do transe tarde demais. Acordou de um sonho e percebeu que era um pesadelo. Envergonhado, com o estômago embrulhado, percebeu que apenas foi usado e descartado.

Está se sentindo completamente nu, sem eira, nem beira e sem algibeira. Foi cuspido pelo grande dragão que lhe deixou sem pão e sem chão. Completamente envergonhado, sente-se isolado. Como se estivesse acordado com uma imensa ressaca física e moral, não tem coragem nem para reagir, para usar a mesma bravura, a mesma valentia de dias atrás.

Agora só lhe resta o ostracismo, a solidão e a desesperança ao ver que seus novos heróis não passavam de velhos vampiros que comeram sua pobre alma. Sem vislumbrar um novo horizonte, se recolhe no seu quarto insano e agoniza no próprio vômito.


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